sexta-feira, 24 de junho de 2011

Girassóis

Estava sentada no campo dos girassóis. O sol morno a deixava mais tranqüila... este brilhava, mas com abatimento, como referência a espectadora da vida. Tinha vontade de correr entre aqueles girassóis, de um amarelo tão intenso e lindo...

Respirava a limpeza daquele lugar; o morro na qual estava sentada a tornava alheia ao cenário... Parecia contemplar o quadro de Van Gogh. Estava ali, não podia negar isso a si mesma... não podia deixar de interagir, a distância não era tanta assim...

Sentia cada cor... tentava contar os girassóis. Até quando tentaria isso? Lembrou-se de quando tentava levar todas as laranjas do suco, de uma vez, e entregar a sua mãe que sorria com a tamanha audácia. Precisava descobrir como é bom apreciar... unicamente.

Gostava de como o azul do céu era tocado pelos girassóis no horizonte, sabia que um dia correria entre eles, sentindo o vento batendo em seu rosto e seus cabelos testificariam a liberdade desse momento. Poderia tocar os girassóis. Eram enormes e tão lindos. Queria um para si.

Naquele dia, conseguiu enfim tirar seus sapatos, sentir-se no quadro da Van Gogh. O vento cantava veementemente em seus cabelos, então pode ensaiar em sua mente o galope intangível. Não precisaria enfim carregar todas as laranjas. Respirava e cantarolava... sorria finalmente.

Sem perceber, o ocaso tocou o campo de girassóis, era hora de ir. Os sapatos, estes, ela poderia ficar sem. Era suficiente para aquele instante... logo estaria de volta.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Karma


O tempo passou para ti... O tempo corre para mim. O sentimento é tão claro... É lua alta e luminosa, de onde os demais estão escondidos, fora de escopo... Sou eu e é você. Esqueça as cortinas do palco por um minuto, elas não se abrirão agora... Não existe cortina entre mim e ti. O espetáculo é apenas você, sentado sobre um banquinho, dedilhando as páginas de um livro que o destino selou.
Você é presente há tanto. Onde foi que a corda se rompeu? Em teus olhos vejo o o passado se fundir ao presente e todo o sentimento inundando e inundando... Por que foi que você veio? Conheço as marcas em teu corpo... Conheço a inquietação da tua alma... Conheço a loucura que condensa o teu ser... Toda tua gravidade.
O meu querer te agride? Ora, quem é você para que me diga quem sou ou diga quem e o que você é para mim? Deixe-me verificar cada linha que marca o teu rosto e tentar vislumbrar a idade que realmente você tem... O que lhe aflige? O que te faz prisioneiro de tantas referências? Estas não existem mais...
Sinto saudade do que não existiu aqui. Sinto saudade do que fomos alhures. Onde estivemos então? E estas letras... Num idioma cuja milenaridade alcança a idade de nossa imaterialidade... por que testifica em mim também? As letras nos formaram... São nossas paixões e caminho...
Quando, onde o laço foi feito? O que existiu afinal? Não importa mais... A nossa cítara tem a força da tua voz e o tom singelo de todo o meu abatimento... Continuas com o livro em suas mãos, dedilhando as páginas da nossa fortuna...