sábado, 15 de setembro de 2012

Perseguição

Hoje sentiu medo de si. Suas mãos suavam como se não foram feitas para outra coisa. A finitude que tanto a visitara durante a vida, hoje resolveu tomar cor, corpo e voz. Sentia como se tudo fosse explodir lançando destroços para o ar, como nos filmes americanos que tanto odiava. Tudo insistia em testemunhar a catástrofe iminente.
Corria fugindo de sons que coexistiam dentro de si e que concorriam para um desespero cujo cheiro inundava as narinas já molhadas pela angústia. Os pés já não se faziam sentir, nem o corte feito na outra noite enquanto tentava parar o turbilhão que a incomodava. Corria e ouvia o tal barulho... Tão ensurdecedor e tão seu.
Alguns carros buzinavam e com todo sofrimento desviava das bicicletas. Percebia que a noite era mais viva que o dia. Tudo era igual à luz do sol e nada parecia poder mudar, uma calma ensaiada e fictícia, nada fugia da rotina das praças vazias e sujas. Apenas quando as figuras noturnas resolviam aparecer o cenário era desconfigurado. Desconfigurado tinha quase o mesmo som de desfigurado, começou a pensar enquanto andava mais rápido, já estava perto do destino. Ainda podia sentir o seu fim.
Desfigurados estavam seu sentir e sua percepção. Queria ter deitado e sentido a calma de outros dias. Seu desespero a tirou do lugar que queria estar há tanto e a fez ver o quanto era refém de sua angústia e desespero. O molho de chave insistia em embaralhar a que abria, enfim sentiu que passara ilesa por ela mesma mais uma vez. Do que tanto fugia era a pergunta que revirava seu estômago nos dias barulhentos. Chorou enquanto a água caía em seu peito e aquecia suas pernas.
Suspirava procurando figuras que sempre via em seu quarto, formadas pela luz da lua que insistia em entrar pela janela praticamente fechada. Contou até quatrocentos e doze, sentiu o peito se acalmar, os olhos se fecharem e o alívio do sono chegar. Estava livre.

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