terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Continuo enchendo meu ventre de você

Continuo enchendo meu ventre de você.
Sentimento é o que exala enquanto a verdade pinga de nosso suor.
É a leveza das manhãs e o parar do relógio no dia que corre entre sussurros e desejos.

Escuto cada palavra com minha alma cansada e sedenta.
Espero pelo momento em que tudo irá ficar lindo outra vez, 
Espero pelo som que sai do mover dos teus lábios chamando o que sou e meu corpo descansar no seu.

Não sou mais eu...
Tudo é você.

Minha alma sente tudo o que é teu no reino que criei para que seja meu.
Te aperto e te abraço; teu cheiro é meu também.
A agonia de tanto sentimento continua aqui...
E eu continuo enchendo meu ventre de você.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Desilusão

Queria ter lágrimas para chorar,
Queria um minuto para me livrar,
Queria saber como fugir
Do que é não ter o que pensei possuir...

Sinto minha alma se dilacerar,
O meu dia vazio caminhar,
Sem saber em qual curva perdi
O que tanto me fazia sorrir...

Pergunto-me quando irá passar,
Se tudo que foi ainda será,
Se meu sentimento parará de agredir
Ao que fui e ao que pensei existir...

Confesso que chego a sonhar
Com o dia em que meu peito irá secar
Das lágrimas que não deixei cair
Por momentos que sonhei enquanto vivi.

sábado, 15 de setembro de 2012

Perseguição

Hoje sentiu medo de si. Suas mãos suavam como se não foram feitas para outra coisa. A finitude que tanto a visitara durante a vida, hoje resolveu tomar cor, corpo e voz. Sentia como se tudo fosse explodir lançando destroços para o ar, como nos filmes americanos que tanto odiava. Tudo insistia em testemunhar a catástrofe iminente.
Corria fugindo de sons que coexistiam dentro de si e que concorriam para um desespero cujo cheiro inundava as narinas já molhadas pela angústia. Os pés já não se faziam sentir, nem o corte feito na outra noite enquanto tentava parar o turbilhão que a incomodava. Corria e ouvia o tal barulho... Tão ensurdecedor e tão seu.
Alguns carros buzinavam e com todo sofrimento desviava das bicicletas. Percebia que a noite era mais viva que o dia. Tudo era igual à luz do sol e nada parecia poder mudar, uma calma ensaiada e fictícia, nada fugia da rotina das praças vazias e sujas. Apenas quando as figuras noturnas resolviam aparecer o cenário era desconfigurado. Desconfigurado tinha quase o mesmo som de desfigurado, começou a pensar enquanto andava mais rápido, já estava perto do destino. Ainda podia sentir o seu fim.
Desfigurados estavam seu sentir e sua percepção. Queria ter deitado e sentido a calma de outros dias. Seu desespero a tirou do lugar que queria estar há tanto e a fez ver o quanto era refém de sua angústia e desespero. O molho de chave insistia em embaralhar a que abria, enfim sentiu que passara ilesa por ela mesma mais uma vez. Do que tanto fugia era a pergunta que revirava seu estômago nos dias barulhentos. Chorou enquanto a água caía em seu peito e aquecia suas pernas.
Suspirava procurando figuras que sempre via em seu quarto, formadas pela luz da lua que insistia em entrar pela janela praticamente fechada. Contou até quatrocentos e doze, sentiu o peito se acalmar, os olhos se fecharem e o alívio do sono chegar. Estava livre.

domingo, 19 de agosto de 2012

E se quebrou.

E se quebrou...
Em centenas e miúdos pedaços.
Deixei cair dos meus dedos o que deveria estar em meus braços,
Foi o excesso de zelo e o vento que passou.

Era tão lindo, tão meu...
É tão ruim o que é seu  estar ao alcance de alguém
São ondas que me cobrem com o seu vai e vem
Às vezes me confundo e acho que quem se quebrou foi eu.

Vaidade, vaidade então.
Somos eu e você em jogadas marcadas
Todos os dias de mãos dadas...
Correndo com o coração na contramão...

De nada sou e tudo faço...
Corre com os ventos da dor batendo em seus cabelos
Nem tudo nessa vida merece desespero
Vai com o sofrimento em seu encalço.

Os olhos vão deixar de marejar,
O dia sempre virá para você.
O mundo vai sempre o obrigar a vencer
E a vida, de tudo, sempre irá se encarregar.

Vaidade, vaidade então.
Somos eu e você em jogadas marcadas
Todos os dias de mãos dadas...
Correndo com o coração na contramão...

domingo, 20 de maio de 2012

Dois para lá, dois para cá...


Atirava-se violentamente contra a parede do ambiente inóspito... Uma, duas, três... O barulho ensurdecedor precisava cessar. Deixou-se largar entre a escada e a porta dos fundos. Nunca conseguiu aprender com visitas e mais visitas ao campo.
O barulho... Praguejava-se inutilmente. Tudo corria por seus olhos e não havia como retroceder ao que lançou com aquele momento. Ao que sempre temia se expunha, como que num ritual de vivificação do que na realidade não existe e nunca existiu.
Mendicância e oblação. Conhecia de cor o caminho para ambos, de onde nada lhe pertence e tudo lhe falta. Os pés feridos pelas horas que caminhou ao nada não lhe traziam a aquietação prometida pelo cansaço. Porra de barulho.
Levantou e lançou-se por mais uma vez. O que lhe vem neste instante de repugnância não contorna mais, tudo se abriu diante de seus olhos. A flagelação é direito daqueles cujo intento podem alcançar. Não há substituição, era o que já sabia. Lançou-se e lançou-se...
O barulho, a valsa da aviltação. Dois para lá, dois para cá... Vá, lance-se mais uma vez! O que precisas mais? Queres algo cortante? Olhe-se ao espelho, meu bem... Vejas a epítome da ignobilidade. Aonde vais? Então sonhes comigo...  E tudo ficará bem,  eu lhe prometo, de sorte que não nos faltará oportunidade, afinal são dois para cá, dois para lá...