quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ecos...

Estava atrás do véu. Sabia que era ele, seguia-o pelos séculos e séculos. Podia vê-lo mais uma vez... Via-o constantemente e não conseguia compreender a persistente presença onde ela se fazia livre, o onírico era a sua certeza em meio à loucura.

Os olhos, há tanto conhecidos, traziam-lhe a agonia do abatimento e a certeza do sentimento que a aquecia. Pela primeira vez em seu quintal, viu-se repreendida por aquele que insistia em se fazer perceber, em troca de mais uma situação de perca de controle. O vento agitava os tecidos confabulando o momento da derrocada.

A mão que deslizava pelo pálido colo a fez prisioneira. Questionava há quanto tempo via-se assim; os ecos renitentes testemunhavam, em sua memória, a continuidade do que se perdera em algum momento, onde a linha do destino rompera-se. O calor dos dedos a empalava juntamente com o vigor que tanto a violava.

O olho a olho a deixou em suas mãos e o encontro se deu em suas bocas. O desespero a visitava enquanto o flamejar dos véus os expunham... encostada à parede desmanchava-se em gemidos frente a sua exasperação, onde a sevícia era engendrada pela simples existência do algoz.

Diante de todo tônus, sua parte material umectava-se, mas esta clamava pela volta de sua essência... precisava voltar, mas o que a prendia a ele não permitia. Queria ser empalada por aqueles olhos, queria o calor dos dedos que há tanto conhecia, queria o descontrole.

O dia amanhecera enquanto o incomodo permanecia. Precisava retornar ao caos diário enquanto sua desordem particular continuava a cantarolar sedutoramente “feche os olhos...”. E o dia estava apenas começando.